Depois de um mês tumultuado devido à chegada
dos primeiros médicos estrangeiros, em grande maioria cubanos, para trabalharem
no sistema de saúde do Brasil, esperei ao máximo antes de esboçar qualquer
opinião sobre este delicado assunto. É evidente que não vou forçar ninguém a
seguir meu ponto de vista, algo que jamais será feito neste blog, mas alguns pontos devem ser elencados, especialmente
em relação aos médicos cubanos.
Primeiramente é preciso deixar de lado todo
tipo de pré-conceito em relação aos cubanos, pois é notável que a visão que
muitos brasileiros têm de Cuba é a que os Estados Unidos passam, mas o que
muitos não sabem é que os cubanos têm o sistema de saúde melhor e mais
desenvolvido que os norte-americanos e que o do próprio Brasil (segundo
pesquisa atualizada da Organização Mundial da Saúde), e que esta prestação de
serviço não é apenas para o povo brasileiro já que vários países do mundo
recebem médicos de Cuba.
Diante o exposto podemos nos ater um pouco a
história, em 1999 o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
junto com seu ministro da saúde, José Serra, trouxeram médicos cubanos para aqui
trabalharem, atitude esta que foi considerada louvável pelos meios de
comunicação da época, cito como exemplo a revista “VEJA”. Então por que está
atitude de repulsa agora?
Confesso que quando soube da notícia do
“Programa Mais Médicos” estava sendo repercutida negativamente pela mídia me
causou surpresa, pois diante da necessidade de médicos em várias cidades do
nosso país, sendo que mais de 700 cidades não tem sequer Um único médico para o
atendimento prévio (imagine em casos de emergência), de que vale então o que
está firmado no artigo 196 da nossa Carta Maior que a saúde é dever do Estado e seu
acesso é “universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”, uma vez que
observamos um sistema de saúde defasado de profissionais e infraestrutura.
Exposto isso abro aqui nesse parágrafo os
dois motivos da escolha de escrever sobre este tema:
1- A declaração corporativista e xenofóbica
do Presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, João Batista
Gomes Soares, ao dizer que irá “orientar a não socorrer erros de cubanos”, é no
mínimo absurda essa afirmação, sendo considerada “Omissão de socorro”,
ratificado no artigo 135 do Código Penal, sem falar a falta de
profissionalismo. Será que o juramento de Hipócrates prevê isso? Outro ponto
forte da declaração do presidente foi o momento em que comparou os médicos de
Cuba com “charlatões” e “curandeiros”, uma pausa aqui, a formação dos médicos
cubanos para aqueles que não sabem são bem parecida com as dos brasileiros,
sendo que o tempo de curso é o mesmo, com uma única diferença, no decorrer do
tempo de graduação das faculdades cubanas de medicina o estudante tem que fazer
serviços à comunidade carente, atendendo suas necessidades, posto isso fica
nítido uma falta de desrespeito e conhecimento alarmante demonstrada por esse
sujeito de alto cargo da medicina de Minas Gerais.
2- O segundo caso foi a hostilização que
esses doutores da saúde sofreram em Fortaleza, mostrando tudo que o Brasil tem
de pior, esquecemos nossos ideias e valores, esquecemos que o bem maior de todos
os seres humanos que é a vida deve ser protegida e principalmente esquecemos
que somos todos iguais. Devemos desculpas a esses médicos que saíram de seus
países, especialmente de Cuba, para nos ajudar a melhorar, uma lástima terem
sido vaiados e não aplaudidos como heróis.
Portanto, é evidente que há um corporativismo muito
grande entre os médicos, talvez o maior de uma classe no Brasil, sendo que se
pararem para pensar há uma resistência enorme na criação de mais faculdades de
medicina em nosso país, deixando apenas a classe média alta e os ricos com
capacidade de cursar medicina, salvo raríssimas exceções. Não são classes
sociais que irão manter a medicina como um instituto solene, e sim as pessoas
que nela atuam que por sua vez devem primar pela vida de todos os seus cidadãos,
garantindo uma existência digna a todos, para que as desigualdades sejam cada
vez mais dizimadas, a saúde é um direito constitucional e deve ser efetivada.